Saindo do Parque Ueno, fomos em busca de um bairro conhecido por ser um local atípico, em Tóquio. Sem arranha- céus, sem cartazes em neon, sem karaokê, sem jovens executivos nos seus uniformes calça preta-camisa branca-de-manga comprida. Uma área frequentada e habitada pela gente das artes, por quem busca um estilo de vida simples e sustentável, distante do vivido por quem tem muita grana. Estes valores geram uma atmosfera singular, cultura boêmia e a “shitamachi vibe”. Shitamachi se referia às partes da cidade onde moravam os trabalhadores, normalmente, eram as partes baixas e mais pobres. E a vibe é aquela do tempo da velha Toquio, antes do milagre econômico dos anos 70/80, do século 20.
Esta região se chama Yanesen, uma junção das primeira sílabas de Yanaka, Nezu e Sendagi. É um passeio muito bacana, com ruas residenciais, muitos pequenos templos e cemitérios, casa de madeira, lojas de produtos autorais e um povo que gosta de circular em bicicletas. Aí é uma região conhecida pelo amor de seus moradores aos gatos.
Começamos a caminhada já nos surpreendendo com a mudança no visual das ruas e casas. Entramos pela Rue des Arts, nos sentindo como fora de Tóquio.
Na primeira etapa, já vimos ruas onde templos, casas e cemitérios dividem o espaço. A área é bem bonita, arborizada com cedros centenários e a estética budista, tão distinta da ocidental, não deixa que a gente faça ligação com os nossos cemitérios. A paisagem não nos remete à morte. Os túmulos são ornados com sotobas, estes grandes bastões de madeira ou pedra, com inscrições em caracteres sânscritos, com votos para facilitar a entrada do defunto no paraíso.
A diversidade da vizinhança. Monge, artista em frente ao seu ateliê e idosos ciclistas.
E segue: casas, casas de chá, túmulos, lojas para os locais e o templo Tennoji.
Ao final, chega-se à Escada Dandan, de onde se tem uma vista para o por do sol. Daí, desce-se para a rua Yanaka Ginza com lojas que funcionam desde 1912 contrastando com outras mais modernas de roupas autorais. Lojas só com artigos para gatos e sobre gatos. Sorveterias com o famoso sorvete imitando o ramen. As onipresentes máquinas de venda de refrigerantes, cigarros, revistas. Soube que ir durante a noite comprar alguma coisa, é uma mania da cidade.
Voltamos para o hotel. Este já é o terceiro dia em Tóquio e ainda não me entendi com o fuso. Junto com a excitação por conhecer tanta coisa nova, o sono parece que vai ficar para a volta.