15 – Matsumoto

Uma cidade de onde se pode ver os picos nevados dos Alpes Japoneses, mesmo na primavera, e ficar hipnotizado com a beleza do seu Castelo de cinco séculos.

Matsumoto entrou no meu roteiro por causa da artista Yayoi Kusama, que nasceu lá e cuja obra me deixa extasiada. Conto, em seguida, como tive sorte em ir lá logo na época de uma super exposição dela, no Museu de Arte de Matsumoto.

Chegamos em Matsumoto, vindo de Takayama, de ônibus. A estrada com paisagens lindas. Vimos, na passagem, plantações que, só depois, soubemos de ser de raiz forte. Matsumoto é a terra do wasabi.

A cereja do bolo é o Castelo. Um dos mais antigos do país, construção iniciada no século 16, tem cinco andares de madeira escura que lhe valeram o apelido de “Corvo Negro”. A torre do castelo, de onde se tem uma vista linda da cidade e dos Alpes do Norte, é classificada como Tesouro Nacional do Japão. Funcionou como forte e vale visitar para ver o piso, as janelas, os portões e os jardins.

Lá, não foi preciso pegar ônibus ou taxi, pudemos ir caminhando para os lugares que escolhemos ir.

O que mais gostamos:

Nakamachi é uma rua com construções chamadas “Kura”, armazém, em japonês. Ali viviam os comerciantes, no período Edo. Elas foram a solução encontrada por eles para proteger suas mercadorias de incêndios e outras intempéries. Como eram ricos, deixaram de lado as casas de madeira, mais baratas, e passaram a construir seus armazéns de alvenaria, muito mais caros.

Estão bem preservadas e hoje funcionam nelas lojas, restaurantes e ryokan. Algo nelas, acho que o desenho de losangos nos muros, me lembrou casas da minha infância, em João Pessoa.

A Nawate Street, ou Rua do Sapo, é um rua de pedestres, à margem do rio Metoba que corta a cidade. Está ali desde o século 16, com casas em estilo tradicional, que dão os fundos para o rio. . Ao longo da rua toda, o tema é sapo. Na entrada, tem uma escultura de 3 grandes sapos, mais sapos de variados tamanhos e materiais, aplicando a rua. . Dizem que, no passado, o rio era habitado por muitos sapos que se encarregavam da trilha musical, ao anoitecer. Um furacão fez o rio transbordar e os sapos foram embora e não voltaram mais. Esculturas de sapos foram espalhadas na rua e até um templo foi feito, em homenagem aos bichos. Esta é uma das histórias contadas para explicar o nome da rua. O fato é que ela hoje é cheia de lojas, ryokan, bares, restaurantes que ocupam as antigas casas, com os fundos dando para rio, onde a gente senta ,pede um café para apreciar a vista do rio e come uma das comidas típicas, como o taiyaki, um tipo de panqueca em forma de peixe recheado com pasta doce de feijão vermelho. Quem gosta de souvenir de viagem, ali é o ponto, tem tudo que é coisa com jeito de sapo. Só me restou uma foto da parte de trás de uma das casas e uma, numa área perto, com um jardim com um laguinho bem raso feito para os cachorros molharem suas patas , se refrescarem ou fazerem cocô. Delicadezas que não advínhamos existir. Vi poucos cachorros nas ruas do Japão. E um ou dois gatos em ruas de cidades menores.

Gostei muito do soba de Matsumoto. Confesso que chegou uma hora que eu já não comia mais, com tanta avidez, ramen ( noodles de trigo branco), udon ( noodle de trigo, com formato mais largo) e soba ( noodle de trigo sarraceno). Mas o que comemos no Soba-dokor Gassho, massa fresca, feita no local, estava delicioso. Era um dia de calor e experimentamos o soba gelado. Estava ótimo.

Acabei comendo bastante oyaki, um tipo de dumpling de trigo sarraceno, com recheios variados. Fiquei sem fotos dos dois, chega também a mesma hora que eu não tinha mais vontade de fazer fotos do que comia. Depois a gente se arrepende mas somos salvos pela internet, a quem pedi emprestadas as fotos a seguir.

Escola Kaichi foi a primeira escola (1873) em estilo ocidental, construída no país. No período Edo, as pessoas comuns podiam frequentar apenas escolas primárias e apenas os filhos dos Samurais tinham o privilégio do acesso à educação superior. Ela surgiu com a grande reforma educativa iniciada no período Meiji. É uma construção super bonita, onde hoje funciona um museu, com um importante acervo de documentos e objetos relacionados ao ensino. As salas de aula e auditório foram preservadas, em sua forma original. O prédio está listado, desde a década de 60, como Bem Cultural nacional. Do lado oposto da rua, funciona a atual Escola.


Antiga residência paroquial católica
, em estilo ocidental, foi construída em 1889, por Pére Clement, padre francês que produziu o primeiro dicionário japonês-francês. A obra foi editada e concluída aqui, nessa casa. Fica perto da Escola Kaichi, numa área bonita. Sentamos num banco de jardim e ficamos vendo uma creche-escola. Bacana ver as crianças brincando, as instalações e as montanha nevadas, ao fundo.

Na volta, fomos procurar a casa da família Takahashi, conhecida como a Casa do Samurai, restaurada e aberta ao público para mostrar como viviam as pessoas, no fim da era Edo e início da era Meiji. A família viveu lá de 1726 a 2004, quando foi doada à cidade e restaurada a partir de um documento de 1883. Apesar das indicações, não conseguíamos localizar a casa na rua e, graças a isso, acabamos por encontrar uma simpática senhora, moradora da rua (“da”, não “de”) que saiu da sua rota e nos levou à casa, bateu uns bons minutos de prosa e nos presenteou. É interessante como os japoneses das cidades pequenas tem sempre um mimo para os visitantes. Fomos presenteados em vários locais, com o presente sempre seguido da frase “Peresente para Burasil”. Muito divertido ver o jeito como pronunciam as letra “r”e “l”.

As obras de Yayoi Kusama

Nascida em 1929, numa família de classe média, filha de uma mulher que não aprovava seu pendor artístico nem muito menos entendia os sinais do seu transtorno mental. Yayoi tinha alucinações desde criança e isto foi o fator que mais dificultou sua relação com a mãe. Foi diagnosticada com esquizofrenia, o que explica um pouco a potência da sua criatividade. Fez de tudo como artista: pintura, escultura, instalações ambientais, escreveu romances e poesia. Desenvolveu uma obsessão por bolinhas que lhe rendeu fama mundial. Eu também sou louca por bolinhas mas arte mesmo quem faz é a grande Yoyoi. Mora num hospital psiquiátrico, por decisão própria, e segue trabalhando com o vigor de jovem.

Tive a sorte de descobrir, quando planejava a viagem, que o Museu de Arte de Matsumoto realizava a maior exposição já feita, com 180 trabalhos: Yayoi Kusama: All About My Love.

Matsumoto também entrou no clima e se enfeitou com bolinhas. Ônibus, bancos de praça, as onipresentes máquinas de venda. Eu entrei no clima e me vesti de bolinhas para homenagear esta artística fantástica.

Uma sala com 66 painéis, de tamanho espantoso ( em torno de 2.0m x 2.0m) é a parte que mais impressiona. Uma sala com espelhos que reproduzem imagens, infinitamente, fazendo a gente se sentir dentro da cabeça dela. Uma produção tão copiosa que só uma mistura de genialidade com loucura pode gerar. De onde vem tanto talento, criatividade e energia para realizar um trabalho tão maravilhoso? As pessoas que trabalham no museu estavam na maior empolgação com esta exposição tão especial da conterrânea ilustre. Yayoi planeja comemorar os 100 nos de vida com outra exposição.

As bonecas artesanais Kimekomi, feitas de madeira e retalhos de tecidos dos kimonos. Fazer estas bonecas era uma atividade desempenhada pela mulheres de classe alta por lazer, junto com a prática de ikebana e bordado. No fim da era Edo, quando a prosperidade dos samurais entrou em derrocada, as mulheres começaram o lucrativo negócio de venda das bonecas. A cidade tem várias lojas e é possível conseguir uma visita em um dos muitos ateliês. Não são baratas. Outro artesanato muito bonito: as bolas Temari ou bolas bordadas. Representam desejos de paz e harmonia, são um bom souvenir e tem aulas para quem quiser se especilizar. Atenção para as tampas dos bueiros nas maior parte das calçadas da cidade, todas com desenhos das Temari.

Matsumoto surpreende pela pegada de tecnologia. Gostam de automatizar a venda de tudo, os restaurantes permitem auto atendimento que permite que estrangeiros tenham mais detalhes sobre a oferta. Robôs servem sorvetes e o conhecido Pepper, desenvolvido por empresa fomos japonesa, está por aí, em muitos locais, atraindo e atendendo clientes. Eu amei encontrar com Pepper. 🙂

Na minha próxima vinda ao Japão ( os anjos da boca murcha digam amém 😀), só vou querer saber de cidades pequenas.

Hoje consegui ler minha primeira palavra, em japonês: karaokê 🙂

Published by Marta Pessoa

Estudiosa da longevidade, fundadora da Longevos. As viagens são meu laboratório.

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